segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Palavras assolapadas #2

Grand-mère
Foste das pessoas que mais me educou não da maneira artesanal mas de uma forma que fez com que eu me tornasse aquilo que sou hoje. Como todas as outras crianças, fui rebelde, indomável, resmungona e prepotente mas lá no fundo sabia que só o fazia para irritar aqueles que me tentavam impor regras como se eu fosse um cãozinho amestrado. Eu sei que fui difícil de aturar porque os meus ideais chocavam com todos os da casa e, inclusive, com os teus. Sei que embora eu fosse o demónio em criança, tratavas-me com carinho e quando não o fazias, era para eu aprender que não podia deixar que o subconsciente me dominasse por completo. Naquela altura não compreendi e hoje ainda não compreendo certas coisas mas todos na vida errámos. 
Arrependo-me de apenas ter dado valor quando já não existias fisicamente. Arrependo-me de cada palavra que não foi dita com o devido respeito mas não me arrependo dos últimos meses em que vivemos em comunhão. Nem de um único dia embora assistisse de forma constante ao teu sofrimento que acabou por findar no primeiro de Setembro. Foi duro, para uma criança, naquela altura com onze ou doze anos ver que mais um membro da família iria partir e que nunca mais iríamos conseguir falar. A verdade era essa e por muito que me quisessem apoiar, nunca conseguiriam naquele momento porque todos eles precisariam mais do que eu. Eu sempre soube ultrapassar as coisas e focar-me naquilo que o futuro me poderia proporcionar. Não consigo ficar agarrada às memórias de um passado, o que me leva um pouco ao campo da insensibilidade. Mas não me arrependo de ser como sou e muito menos daquilo que me ensinaste mesmo pouco antes da tua morte. Há memórias que ficam, outras desvanecem-se mas na verdade, as mais importantes e marcantes ficam retidas, mesmo que sejam aquelas que mais no perfuram o que resta do nosso coração. 

1 comentário:

Sofia Costa disse...

Infelizmente sei o que é perder alguém quando somos demasiado novos, e parecendo que não, a cicatriz fica para sempre, mas ter essa capacidade de deixar o passado lá trás e avançar sem retornos é admirável e muito útil. Por vezes era uma capacidade que gostava de possuir. E já dispus dela, mas desperdicei-a e hoje revejo muitas vezes o passado com mágoa. Muitos parabéns pelo que já escreveste aqui no blog. Tens de facto , jeito com as palavras :)
Um beijo, Emma Sommers *
(este era o comentário que nao conseguia enviar xp )