domingo, 8 de janeiro de 2012

Palavras assolapadas #3

Puzzle

Que raio de mania de pensarem que todos nós precisamos de companhia! Eu vivo bem na minha solidão. Vivo bem com os meus pensamentos, com as minhas músicas, com o meu quarto vazio. Eu passo bem sem companhia! Nunca me queixei, verbalmente, de me sentir sozinha! Nunca pedi para me fazerem companhia embora a preze. Não sou completamente solitária porque gosto de conviver mas eu sempre fui a ovelha negra que faz propositadamente ao contrário daquilo que as pessoas querem! Eu não tenho culpa de não me sentir à vontade para falar com certas pessoas! Não tenho culpa sequer da vossa carência de companhia mas o mais antagónico, é que vocês me ensinaram a viver na solidão, seres que por mim querem ser acompanhados! Foram vocês que me deixaram ao Deus de ará por mais de sete meses! Foram vocês que me deixaram crescer por mim própria, cair e levantar-me como se fosse uma mulher de trinta anos quando, na verdade, apenas tinha onze ou doze anos! Sim, vocês marimbaram-se para mim. Apenas uma pessoa se dedicou a mim nessa altura. É normal que confie mais nela. É normal que não queira passar tempo convosco porque por mais que eu tente esquecer a adversidade que sinto, não consigo. Naquele momento, eu sentia-me desamparada, sem apoio e eu não tinha ninguém. As atenções estavam centradas noutra pessoa. Eu compreendo porquê mas viveram para ela e limitaram-se a vê-la como prioridade em tudo, pensando que boas palavras iriam reparar-me! Não! Não conseguiram fazê-lo porque nunca me esqueci daquilo que quase todos me fizeram.
Vocês questionam-se como eu cresci revoltada, com o nariz empinado e tudo aquilo que eu hoje sou e vocês não gosto mas eu só tenho uma resposta: vocês! Vocês fizeram de mim alguém com revolta, que recusa e estranha qualquer tipo de afeto, que não consegue acreditar em quem a rodeia e eu era extremamente doce e apegada a vocês! De facto, eu tenho até de vos agradecer porque por muito que me queiram ferir com as vossas palavras alegando que sou completamente desprovida de coração e sentimentos, nunca me farão arrepender daquilo que sou e muito menos moldar-me porque eu sou de ferro. Não de barro ou algo maleável.
É triste que me culpem por ser como sou quando foram vocês que me obrigaram a agir como uma adulta. É triste que se orgulhem de me terem dado aquilo que muitas crianças não tinham acesso quando, naquele momento eu não precisava de presentes: precisava de afeto. Precisava de um ombro familiar e apenas encontrei um que ainda hoje prevalece e para sempre será considerada minha irmã embora eu seja filha única. Ambas estávamos no mesmo barco. Sem ninguém. Apenas nos tínhamos a nós e apoiávamo-nos mutuamente, ao contrário de vocês que encaminhavam tudo para uma única pessoa.
Não se admirem que eu vos odeie um pouco. Quando me disseram que eu já não era a mesma por terem dado atenção a essa pessoa, eu neguei, alegando que era uma fase mesmo quando eu tinha a certeza que não era isso.
Acham que é fácil olhar para vocês e não sentir que são meus tios ou mãe? Acham que é fácil dizer "eu adoro-te" quando na verdade me apetece dizer "eu não sei o que realmente por ti nutro"? Acham que é fácil olhar para o passado, ver que adorava todas aquelas pessoas e agora apenas nutrir um misto de desprezo com repulsa? Não, não é fácil porque eu não sei fingir! Eu não consigo dizer que vos adoro e que quero estar convosco! Eu apenas me sinto bem sozinha ou com pessoas que eu goste mesmo. 
Eu não quero ser como vocês. Deixaram-me como se eu pudesse viver tudo sozinha.... Sobrevivi, não é? É o que interessa e graças a tudo isso, refugiei-me na escrita e se não tivesse sido este mecanismo, não sei se seria minimamente sã a nível mental.
Agora, é muito tarde para me quererem dar aquilo que eu não tive direito há uns anos. É desnecessário porque eu não vos considero família! Eu nem sei o que vocês são, sequer! Sei quem vocês foram mas não se enquadram no mesmo plano. Eu não quero companhia, especificamente, a vossa! Eu sei que posso ter um coração empedernido mas foram vocês que contribuíram para a sua mutação. Se eu sou solitária foi porque assim aprendi precocemente!
Agora, não me venham com morais que eu não quero saber de ninguém porque vocês foram os primeiros a não quererem saber de mim e nem imaginam o quanto me custou naqueles meses todos! Eu cresci demasiadamente rápido sem vocês terem percebido e agoira vocês rejeitam as consequências disso... Eu não quero saber! Felizmente sou autónoma e solitária, o que significa que não sou como vocês que precisam de um batalhão para resolver as coisas e eu resolvo tudo sozinha. Posso orgulhar-me de ser independente em quase tudo e vocês sempre viverão presos uns aos outros! Eu não irei fazer parte do vosso clã! Eu não quero! Eu serei quem eu quero para quem merece.
Percebam que eu não tenciono ser dócil. Percebam que com vocês nenhum afeto irá resultar! No entanto, acreditem que quando eu me apaixonar, será a sério porque duvido que os meus sentimentos cresçam por alguém que não me dê uma oportunidade de achá-lo um herói e um ser humano de verdade. De começar de novo e dar aquilo que gostaria de ter recebido. E aí, podem ter a sorte de eu vos perdoar ou continuar a ver-vos com os mesmos olhos. Para acrescentar, eu se formar uma família, não quero grande contacto convosco porque vocês sofrem do Complexo de Édipo e Eletra que me enerva. Todos nós estamos sozinhos e nunca nos devemos apegar em demasia a ninguém e eu não quero que me façam isso. E eu, contrariamente ao que digo, espero que esse dia chegue para vos mostrar que eu tenho um coração de carne para quem o merece.
Lamento, mas esta sou eu. Esta é aquela que vos esconde os segredos. Esta é a peça do puzzle que vocês jamais irão encontrar e encaixar...

1 comentário:

Cláudia S. Reis disse...

Todos precisamos de companhia e é à volta disso que a vida se rege, quer queiramos, quer não!

No meu blogue tens um desafio que te deixei lá por seres um dos meus blogues favoritos $: Beijinhos!

http://el-mecaniqueducoeur.blogspot.com/2012/01/blogger-award.html